Sábado, 06 de Dezembro de 2025

Multidão festeja título do Flamengo no Rio de Janeiro com famílias unidas

Milhares de torcedores comparecem ao Centro do Rio para celebrar a quarta conquista da Copa Libertadores, destacando a força social do futebol.

01/12/2025 às 10:01
Por: Redação

A celebração do quarto título da Libertadores do Flamengo, conquistado no sábado (29) com um gol de cabeça do zagueiro Danilo contra o Palmeiras, mobilizou centenas de milhares de torcedores no Centro do Rio de Janeiro neste domingo (30). A paixão pelo clube, imortalizada pelo baiano Moraes Moreira em 1983 ao lamentar a partida de Zico, continua a mover multidões 42 anos depois, transformando a vitória em um alívio coletivo para as frustrações diárias.

 

Do alto de um caminhão aberto do Corpo de Bombeiros, os jogadores rubro-negros desfilaram pela Rua Primeiro de Março e Avenida Presidente Antônio Carlos, no coração da cidade, sob o sol forte e o calor humano da "Nação". Essa demonstração massiva de apoio, a 5,1 mil quilômetros do Estádio Monumental de Lima, no Peru, onde a partida decisiva ocorreu, é um testemunho eloquente do poder de mobilização que o futebol exerce sobre as pessoas.

 

Alívio Pessoal e Alegria Coletiva

Para muitos torcedores, como o casal Eduardo Ferreira Henrique e Valéria Nunes Domingos, residentes do Cosme Velho, na zona sul carioca, a conquista do time transcendeu o campo e se mesclou com celebrações pessoais. Eles compartilharam a alegria de uma "vitória dupla" no fim de semana, com Valéria recebendo um resultado negativo para uma suspeita de câncer justamente no dia da grande final, elevando a emoção do momento.


"Tivemos duas vitórias: minha esposa estava com suspeita de câncer, deu resultado negativo; e a vitória do Mengão. Foi um dia maravilhoso, sensacional! Comemoração dupla", vibrou Eduardo.


Valéria destacou a importância de vitórias como essa para manter o otimismo na vida, servindo como uma motivação para o sorriso constante. Eduardo complementou, afirmando que a euforia do futebol promove a união entre as pessoas, rompendo barreiras e deixando para trás a violência associada ao passado, com a torcida se abraçando e demonstrando felicidade em conjunto.

 

Laços de Família e Superação Pessoal

A força agregadora do futebol também foi sentida por Andressa Vitória, que viajou de São Gonçalo, na região metropolitana do Rio, a cerca de 30 quilômetros de distância, em quase duas horas de deslocamento. Ela chegou por volta das 9h, acompanhada da sogra Rosane Rodrigues, e revelou que a emoção da vitória serve como um alívio significativo para sua vida pessoal, especialmente para quem enfrenta crises de ansiedade.


A torcedora ressaltou que, mesmo em ambientes como um bar, o futebol cria laços profundos, transformando desconhecidos em amigos e a comunidade de torcedores em uma verdadeira família, unindo todos em um único propósito.


Eusébio Carlos André, que veio de Resende, cidade no sul do estado a 170 quilômetros da capital, planejou sua presença na festa antecipadamente, acreditando que as vitórias do Flamengo tornam a vida mais leve, trazendo felicidade para pais de família e impactando positivamente o trabalho e as relações pessoais. Ele enfatizou a natureza democrática do esporte, capaz de unir "o pobre com o rico, o cara que ganha cinquenta mil reais junto com o que ganha oitenta reais por dia", superando diferenças de raça e etnia.

 

O Futebol como Fenômeno Sociocultural

A profunda mobilização e a coesão social geradas pelo futebol são temas de vastos estudos acadêmicos. O professor aposentado Mauricio Murad, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e doutor em sociologia do esporte pela Universidade do Porto, em Portugal, aborda esse fenômeno em seu artigo "Futebol no Brasil: reflexões sociológicas", qualificando-o como um dos maiores eventos da cultura de massa no país.


"O futebol mobiliza paixões coletivas, expressa os fundamentos antropológicos de nossa formação e representa o nosso sistema simbólico, como poucos acontecimentos da estrutura social", escreveu o professor.


Murad argumenta que o valor simbólico do futebol transcende o âmbito profissional, permeando toda a vida social brasileira e estimulando corações e mentes em diversas regiões, classes sociais, faixas etárias, níveis de escolaridade e relações de gênero. Ele compara sua abrangência ao Carnaval, apontando que, ao contrário da festa de Momo que dura poucos dias, o "reinado do Rei Pelé dura o ano todo", evidenciando sua perene influência nacional.

 

Herança e Expectativas Futuras

A paixão pelo Flamengo é frequentemente uma herança familiar, como exemplificado pelo casal Maurício Braz e Flávia Torres, que viajaram de Magé, município da região metropolitana, para a celebração, levando consigo o filho João Vicente, de apenas nove meses. Maurício, orgulhoso, apontou para uma camisa de novembro de 1995 no corpo do bebê, simbolizando a transmissão da tradição rubro-negra de geração em geração, marcando o tetracampeonato da Libertadores para o pequeno torcedor.

 

Hélio Marcos Ferreira Chaves, que havia comemorado os títulos de 2019 e 2022 com os filhos, lamentou a ausência deles na festa atual, justificando que um deles estava trabalhando e não pôde comparecer. Contudo, Hélio já planeja uma nova celebração para quarta-feira (3), quando o Flamengo enfrentará o Ceará pelo Campeonato Brasileiro, com a expectativa de um possível novo título, garantindo que o filho o acompanhará nessa próxima ocasião.

 

Assim, embora o célebre sambista João Nogueira cantasse sobre a tristeza de não querer comer quando o Mengão perde, neste fim de semana, a "Nação" rubro-negra celebrou com alegria, saboreando a vitória e a sensação de um sonho realizado, refletindo a profunda conexão entre o clube e seus milhões de torcedores.

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